28/06/2012

DA SENSAÇÃO DE LANÇAR UM LIVRO

É mezzo meu, mas ainda um bocado.
Antologia de novos autores, mais de dez. Meu conto fecha o livro. É uma baita responsabilidade para ombros capricornianos.
Não é só meu, mas é muito meu.

Considere. O escritor é o bicho mais solitário que tem. Pior que eremita. Imagine se o eremita tivesse lápis e papel numa caverna das entranhas da Índia? O eremita, obrigado a refletir sobre si mesmo e desfragmentar-se em caquinhos de personagens que metem o dedo no córtex somatossensorial, em pleno isolamento, deparando-se com sua própria caligrafia de merda. Capaz de implodir ao contrário. Ao invés de paz, tratado de guerra. Por isso tantos de nós bebem. Mal bebo hoje porque atravessei os portões; consagrei minha mesa de tarot e a ele sirvo. A punição dele é pior que mamãe ou deus.

E aí, abre-se uma janela. O lançamento. A ocasião que finalmente vê a cara de alguém, sai do buraco, do útero envelhecido e estéril que se enfiou no último ano. Quando vira de verdade. Quando alguém te lê em voz alta. Quando alguém diz algo na tua cara. O lançamento. Quando teus amigos vêem que você é louco mas não é vagabundo. Quando teu pai finalmente tem um papel com o seu nome pra pendurar na parede.

Você precisa ser desvirginada, disse o moço mais velho. Alguém precisa tirar esse seu cabacinho. Depois do primeiro, os outros doem menos. Achei esquisita a metáfora. Por acaso você quer me foder? Ou me ajudar? Leio nas entrelinhas. Não esqueça que fiz pacto com o diabo.
Eu preciso lançar, é isso. O primeiro. Sem metafodência pro meu lado, querido.

Lancei, lancei. Se é verdade, não sei. Mas agora sou escritora de verdade. Meu pai pode me colocar na parede. Meu marido pode andar com o livro pendurado no pescoço que nem crachá e me comprar um iPhone de presente porque minha mulher é escritora, por isso ela não tem dinheiro, mas ela merece falar ao celular e tirar fotos bonitas.
Muita coisa muda, de um dia pro outro. Eremita que saiu da toca. Eremita que ganhou computador com internet. Não mais tão sozinho, mas de volta a alcova.

E que venha o próximo livro.


Pedi licença pra virar umas garrafas e interrompi pontualmente as 3h da manhã.

26/06/2012

Há quanto tempo não venho aqui... Sinto até vergonha.
Dou umas chibatadas nas costas.
Falta-me organização. Sou nova nessa trabalho solitário de portas fechadas e janelas abertas. É difícil escrever e passar o dia inteiro comigo mesma, julgando cada palavra, fechando-a numa gaveta para depois redescobri-la.
Com isso, te reneguei, blog. Mas não por muito tempo. Espero que entenda. Somos velhos amantes.

A quem ainda entra aqui, minhas sinceras desculpas e um pedido: compareça hoje ao sebo Baratos da Ribeiro, em Copacabana, (R. Barata Ribeiro 354), as 19h. Estarei lá dando a fuça a tapa, lançando meu primeiro conto publicado, integrante da antologia de novos autores da Flaneur, "Clube da Leitura II".

Por favor, vá.