10/02/2012

Hoje é dia de Mãe Menininha!

10 de fevereiro é aniversário de Mãe Menininha do Gantois, mesmo pra quem vive de fora do Candomblé e das tradições africanas no Brasil. Presente em muitas músicas, de Caymmi a Bethânia e axé, o ateu pode desprezar a questão religiosa e ainda reverenciar o ícone antropológico -- a mulher que brigou com o Estado e conseguiu muitas liberdades ao culto dos Orixás, que como tudo, era proibido.
Vale a pena assistir a esse documentário para entender melhor essa figura tão importante da ligação África-Brasil e que infelizmente fica de fora dos nossos livros do colégio.

Documentário "Bahia Mãe Menininha" 

Parte I

 Parte II

09/02/2012

Sobre os oráculos





É o que venho fazendo nos últimos dias. Muito.
O tarot é surpreendente, absolutamente surpreendente. Um oráculo realmente divino.
Iniciante que sou, tirando joguinhos de cinco cartas pros mais chegados, tenho visto coisas impressionantes. Muitas vezes leio as lâminas me contorcendo de dúvidas, e estou vendo a coisa acontecer na prática. Isso tem me levado a reflexão do quão sério é esse tipo de manipulação. Manipular oráculos é como operar alguém; meio vacilo pode corromper um corpo, e pior, uma mente, em dois palitos. Me assusta também como essas práticas tem sido "comercializadas", o quanto tem de gente por aí fazendo reiki, tirando carta pros outros se nomeando tarólogo, fazendo fogo sagrado, batendo tambor pra invocar animal de poder xamânico... Até mesmo na Bahia tive que me desvencilhar de "ciganas" que agarravam minha mão pra dar uma benção. Algo que aprendi, e que passo pra frente, é que com esse tipo de coisa deve-se ter muito cuidado. Jamais entre num local que não conhece ou deixe alguém tocar no seu corpo e interferir na sua energia. Jamais invoque um espírito se não tiver conhecimento pra isso, ou entender por qual linha espiritual você segue -- ou aguenta. Jamais comece por um tarot de Crowley.
Com a responsabilidade de oraculador e emissor de energia, há um ônus também. Mexer com a energia de outra pessoa é muito perigoso para ambos, emissor e receptor. Eu pago pelos caminhos errados que tomo com o tarot, e preciso de um arsenal para proteger meu corpo e espírito a cada carta que tiro. Não é nada fácil... mas para alguns, isso é imposto, como está sendo comigo. A pessoa é para o que nasce e em algum momento, isso lhe será imposto. É preciso saber ouvir.
Uma atenção redobrada para Netuno, que regressa a seu signo natal, Peixes. Com isso, todas as questões espirituais estarão mais em voga, assim como o delírio em relação a eles. Veremos proliferar todo tipo de terapia energética, mas isso não sairá impune. Como eu disse, há um preço a se pagar, e ninguém está preparado. Por isso muito cuidado com os oráculos, muito cuidado.
Nós ainda somos o grande mago de nós mesmos.

05/02/2012

Moral da história

Trabalhar com a escrita aflorou muito meu lado social. Presto um tipo de atenção diferente, totalmente contemplativa e sem julgamento. Observo as ações como uma médica de autópsia, separo os tecidos, gosto de imaginar o que está embaixo de cada coisa, as razões, as deficiências, as qualidades... Infelizmente, isso ainda não me fez mais tolerante a situações de caráter duvidoso ou arrogância. Ainda não tenho muita capacidade emocional para tratar com frieza quando alguém me deseja mal. Sempre me pergunto se a pessoa percebe que está desejando o mal ou é inconsciente. Não faço idéia, mas pra tentar me acalmar e sentir menos mal nesse tipo de situação, relembro a história que uma amiga me contou num carnaval de anos atrás, numa cidadezinha de Minas Gerais, onde eu estava com os sentimentos fodidos e confusos. O deslocamento valeu a pena, entre outras coisas, por essa história contada no quarto abafado que a gente dividia. É sobre a Marquesa de Araxá, a famosa Dona Beija, que virou até uma novela da Globo com a Maitê Proença.

A Marquesa de Araxá tem uma história triste. Sempre foi uma mulher muito bonita, talvez pelo cabelo claro e olhos mais claros ainda que não eram comuns em sua época. Ainda menina, foi levada por um homem rico e importante da corte e mantida em cárcere como sua amante. Quando conseguiu fugir, retornou a cidade de Araxá, mas foi marginalizada pela sociedade. Já causava inveja nas mulheres por sua beleza, que viram o seqüestro de maneira inversa, como se fosse ela a culpada de seduzir um homem mais velho e viver com ele de forma profana. A Marquesa rebelou-se e fez a escolha de vida de não se envolver institucionalmente com homem algum, pelo contrário; seria uma amante livre -- dizem as más línguas que tornou-se de fato prostituta, profissão que a fez enriquecer.
Um dia, deu em sua casa uma grande festa, e convidou todos os habitantes de Araxá. Os homens da cidade compareceram, mas a grande maioria das mulheres não. No meio da festa, um lacaio trouxe uma caixa, um presente, enviado pelas mulheres ausentes. A Marquesa abriu o presente, em meio aos muitos convidados, e o choque foi geral: a caixa estava cheia de bosta de cavalo, uma atitude pensada para denegri-la e feri-la em sua própria casa.
No dia seguinte, a Marquesa mandou entregar também uma caixa à casa da mulher que havia enviado o lacaio. Dizem inclusive que as mulheres da cidade estavam ali reunidas para rir do escândalo que haviam feito. Quando o mesmo lacaio entrou no salão carregando a caixa e a entregou a patroa, esta abriu. Era um maravilhoso buquê de flores, colhidas especialmente. Junto, um bilhete, de punho da própria Marquesa, que dizia: "A gente dá o que tem".